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Por que não devemos usar “por quê” com as crianças


Por que devemos evitar o uso indevido do por quê com as crianças?


O "por quê" é uma das expressões mais usadas para fazer perguntas. Quando a utilizamos estamos querendo buscar a causa de algum evento, os motivos, ou a razão de algum acontecimento. Esse é o propósito original do termo: a investigação, a busca por informação.

Entretanto, não é com esse propósito original que esse termo tem sido frequentemente utilizado pelos adultos nas conversas com crianças.



Em geral, o termo "por quê" conota reprovação, ou até mesmo punição!


Quando uma criança quebra um copo de vidro por ter deixado-o cair no chão, a mãe reage com um "por que você deixou cair?". Quando um aluno machuca um colega, a professora repreende com um "por que você bateu nele?".


Nem a mãe, nem a professora querem saber o "motivo" de o copo ter caído ou as "circunstâncias" da briga na escola. O "por quê" não busca por informação. É um ato de repreensão, implicando em culpa ou condenação.


O por quê comunica ao ouvinte que ele agiu errado ou que comportou-se mal. É entendido como "não faça isso", ou "você deveria se envergonhar de ter feito isso". Ainda que não tenha sido essa a intenção do falante, o termo será entendido nesse sentido.

"Por que você sujou sua roupa?", "por que está descalço?", "por que não tomou banho ainda?", "por que você não comeu?", "por que você não fez a lição de casa?", “por que você chegou atrasado?”.

Interpretamos o termo como condenação, porque assim aprendemos desde pequenos. Para as crianças que aprendem a falar, o "por quê" é a chave para abrir os segredos do mundo. Mas ela logo aprende que para o adulto, esse termo tem outra função.

Se, por exemplo, a criança tenta responder ao por quê do adulto com uma explicação, o adulto logo interrompe com um “...não quero saber!” ou até mesmo um paradoxal “...não responda!”.

A criança então entende que não deve responder quando o adulto pergunta “por quê”.

Não é raro a criança abaixar a cabeça e manter-se em silêncio com os olhos cheios de lágrima quando ouve um “por quê”.

O problema com a palavra por quê é o efeito negativo que ela produz no ouvinte. Este, quando ouve a palavra, sente a necessidade de se defender, de recuar, de evitar a situação.



Embora a criança interprete o por quê como "você fez algo de errado", ela nem sempre está apta a mudar seu comportamento e agir da forma que consideramos adequada, podendo até se revoltar contra o por quê.

O adulto perde a oportunidade de ouvir e de exercitar na criança competências como autopercepção, reflexão, comunicação e resolução de conflitos.

Além disso, quando o por quê é usado em seu sentido original, ele já não produz mais seus efeitos. Quando o adulto quer de fato saber os motivos de um comportamento, a criança se sentirá desencorajada a responder. Ela não se sentirá livre para se expor.

 

Substituindo os “por quês”




Uma vez que o por quê se tornou ineficaz em seu sentido original, como podemos encorajar o relato e a comunicação das crianças?

O adulto pode, por exemplo, fazer uma introdução à pergunta. Ao invés de simplesmente perguntar “por que você não fez a atividade?”, ele pode falar “tenho percebido que nos últimos dias você não tem conseguido concluir as tarefas; até então você não tinha dificuldades em concluí-las; tem acontecido alguma coisa que está te prejudicando, ou você está com alguma dificuldade?”.

Outra possibilidade é substituir o por quê por uma pergunta aberta ou uma pergunta indireta:

"Estou curioso em saber o porquê de..."
"Eu adoraria saber o que aconteceu para você ter agido assim." 
"Deve ter acontecido alguma coisa para você ter agido assim."



Ou mesmo substituir por perguntas mais simples sem o por quê, como "o que aconteceu?".

Além disso, quando a criança responder, ou conseguir explicar, o adulto deve reconhecer o empenho dela e validar o relato:

"Obrigado por você ter me contado o que aconteceu." 
"Agora eu posso entender porque você estava com raiva e fez aquilo."



Por fim, evite usar o por quê quando o objetivo não for obter informação. Se a criança estiver realmente se comportando de forma inadequada, pouco adianta perguntar “por que você fez isso?” se não procuramos resposta nenhuma. Nestes casos, estabeleça regras e combinados claros com as crianças, e não com “por quês”.


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