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Jovens que desistem: O suicídio na população infanto-juvenil no Brasil

Por Eduardo de Rezende
12 de setembro de 2016

Embora o número de suicídios entre crianças e adolescentes no Brasil seja relativamente baixo quando comparado a outros países, há uma situação desconfortável que causa grande preocupação: nossos índices vêm crescendo lentamente ao longo dos últimos anos.


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Suicídio na infância e adolescência é um problema de saúde pública.


O suicídio é um ato intencional para acabar com a própria vida. O comportamento suicida abrange um espectro contínuo de atos que vão desde o suicídio propriamente dito que resulta na morte, incluindo também as tentativas, pensamentos e desejos suicidas.

Apesar da crescente ocorrência, relatos de suicídio na imprensa são incomuns. Jornalistas evitam comunicar casos de suicídio para respeitar a privacidade da família e por entender que essa atitude, além de trágica, faz parte da intimidade da pessoa. Há ainda a crença de que notícias de suicídios podem influenciar potenciais suicidas a agirem de forma semelhante.
Relatos de suicídio cometidos por crianças ou adolescente são ainda menos frequentes e pouco registrados.

Ainda que os casos raramente sejam expostos ao público, o suicídio é um grave e preocupante problema de saúde pública. O assunto tem ganhado cada vez mais atenção de sociedades organizadas. Considerando, dentro outros motivos, o aumento na frequência do comportamento suicida entre jovens de 15 a 25 anos, o Ministério da Saúde publicou em 2006 a portaria nº 1.876 que institui diretrizes para o desenvolvimento de estratégias para prevenção do suicídio em toda extensão nacional.

A campanha internacional Setembro Amarelo, promovida no Brasil principalmente pela Associação Brasileira de Psiquiatria, tem o objetivo de conscientizar a população acerca desse problema, provocando mudanças em defesa da vida e favorecendo a prevenção de comportamentos suicidas. Apesar das ações da campanha serem contínuas, o dia 10 de setembro é considerado o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, motivo pelo qual a campanha é feita principalmente em setembro.


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Campanha "Setembro Amarelo": mês da prevenção ao suicídio.




Suicídio na infância e adolescência


Em crianças muito pequenas nem sempre é clara a interpretação de um ato como suicídio, pois há a possibilidade de a criança não ter consciência sobre o que é a morte ou sobre as consequências de seus atos (por exemplo, sobre os efeitos do uso de alguma substância) — não sendo possível, portanto, considerar que o objetivo de seu comportamento tenha sido acabar com a própria vida.

Entretanto, há registros na literatura de comportamento suicida desde a primeira infância. Segundo o Prof. Dr. Fábio Souza, da Universidade Federal do Ceará, 43 crianças de 0 a 9 anos se suicidaram no Brasil entre 2000 e 2008 — o enforcamento foi a forma utilizada por 80% dos meninos, já as meninas agiram por meio de intoxicação medicamentosa, objetos cortantes e afogamento.

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Gráfico: número de suicídios de crianças e adolescentes no Brasil.


Há menos dúvida sobre a intencionalidade de comportamentos suicidas de crianças mais velhas e adolescentes.

O jovem que tenta ou comete suicídio é, comumente, um indivíduo em sofrimento psíquico.

De fundamental importância para a compreensão desse comportamento é a análise do contexto de desenvolvimento da criança, incluindo as relações parentais, escolares e comunitárias.

Estudos apontam que conflitos familiares, principalmente entre pais e filhos, estão entre os principais fatores de risco de suicídio entre crianças e adolescentes. Outros estudos apontam ainda como fatores de risco para o suicídio o abuso físico da criança, violência sexual, uso de drogas e/ou de substâncias alcoólicas, estresse pós-traumático, depressão, transtornos ansiosos e comportamento agressivo/impulsivo.

A depressão é o principal preditor de pensamentos suicidas. Cerca de 60% dos adolescentes que cometem suicídio estão passando por um estado depressivo.

O uso de álcool e drogas contribui substancialmente para o risco de suicídio, especialmente em adolescentes do sexo masculino.

Histórico de comportamento suicida na família, vivências de transtornos psíquicos pelos pais ou responsáveis, perda de entes queridos, relação pais-filho pouco favorável, maus-tratos e abusos físicos ou sexuais também estão associados com o risco de comportamento suicida.




Bullying e suicídio


Atualmente, os fenômenos que conhecemos como bullying e sua versão virtual, o cyber-bullying, têm sido associados à maior ocorrência de suicídio entre jovens.

Bullying é um termo que se refere a um conjunto de comportamentos de ameaças e intimidações que envolve agressão física ou verbal, humilhação e exclusão.

O cyber-bullying é a reprodução dessas humilhações através de mídias digitais e redes sociais, como Facebook, Instagram, Whatsapp, Twitter etc., podendo ser perpetrado por outros jovens ou mesmo por adultos. O vazamento de imagens e vídeos íntimos de adolescentes tem sido identificado como motivo de ideações e atos suicidas, sobretudo entre meninas.

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Bullying é uma das causas de suicídio entre crianças e adolescentes.



Para muitos jovens, tirar a própria vida é a única saída encontrada para aliviar o sofrimento psíquico, os sentimentos de insegurança e a angústia.

Filmes como Bullying: provocações sem limites (2009) e Um Grito de Socorro (2013), e a recente série 13 Reasons Why (2017) retratam episódios de bullying na adolescência que terminam no suicídio das vítimas.

O uso da internet pode tanto trazer prejuízos como pode também ser útil no cuidado e proteção contra o suicídio. Além de ser o espaço que torna possível o cyber-bullying, vários sites na internet oferecem informações sobre métodos e dicas para cometer o suicidio. Por outro lado, a internet pode oferecer ao jovem um espaço de acolhimento que ele não encontra no mundo real, onde ele pode se sentir mais livre e encorajado a seguir vivendo.



Apoio e intervenção


Uma vez que o suicídio está frequentemente associado à depressão, uso de drogas e álcool, e outros transtornos psicopatológicos, o tratamento é feito em unidades de atendimento psicossocial, onde as crianças e adolescentes são atendidos por uma equipe multiprofissional.

Além disso, a partir da análise do contexto social onde o jovem está inserido, é preciso também pensar estratégias que provoquem mudanças em suas relações familiares, com os colegas, na escola ou em qualquer outro grupo social onde ele esteja inserido.

Tendo em vista que as vivências de bullying se dão, sobretudo, em instituições organizadas como a escola, é fundamental o desenvolvimento de programas de conscientização e combate a essa forma de violência nesses espaços. Exemplo de um projeto desse tipo foi apresentado pelo psiquiatra infantil Dr. Fábio Barbirato num quadro do Fantástico, da Rede Globo, no ano de 2015. Acesse o vídeo aqui.








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Para saber mais:


ABASSE et al. Análise epidemiológica da morbimortalidade por suicídio entre adolescentes em Minas Gerais, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 14(2), 407-416, 2009.

BARBOSA et al. Bullying e sua relação com o suicídio na adolescência. Id on Line Revista Multidisciplinar e de Psicologia, 31(10) 202–220, 2016.

CASH, S. J.; & BRIDGE, J. A. Epidemiology of Youth Suicide and Suicidal Behavior. Current Opinion in Pediatrics, 21(5), 613–619, 2009.

LEMOS, M.; SALLES, A. Algumas reflexões em torno do suicídio de crianças. Revista de Psicologia da UNESP, 14(1), 2015.

SOUZA, Fábio. Suicídio: Dimensão do Problema e o que Fazer, in Debates: Psiquiatria Hoje, Revista, Ano 2, nº5, Set/Out de 2010.

VAN GEEL, M.; VEDDER, P.; TANILON, J. Relationship Between Peer Victimization, Cyberbullying, and Suicide in Children and Adolescents: A Meta-analysis. JAMA Pediatrics, 168(5), 435-442, 2014.

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