10/random/post-list

Os 6 tipos de comportamentos sociais das crianças durante a brincadeira na teoria de Mildred Parten

por Eduardo de Rezende

Na primeira metade do século passado, a socióloga americana Mildred B. Parten Newhall (1902 – 1970) descreveu seis categorias de comportamento social das crianças durante atividades de lazer. Ao longo dos anos, o trabalho de Parten tornou-se referência na compreensão e na investigação social do comportamento de brincar das crianças.

brincadeira comportamento desocupado, solitária, observador, paralela, associativa, cooperativa

Mildred Parten era pesquisadora do Instituto de desenvolvimento e bem-estar das crianças da Universidade de Minnesota, onde, junto de outros pesquisadores, desenvolveu um longo estudo observacional do comportamento social de crianças em idade pré-escolar. A pesquisa incluía a investigação da participação social, comunicação verbal, liderança em grupos, fatores que influenciavam a escolha de companheiros de brincadeira, atribuição de valor social às atividades ou brinquedos, dentro outros temas.

A respeito da participação social das crianças — ou seja, como elas interagem umas com as outras durante a brincadeira —, Mildred Parten agrupou os comportamentos observados em 6 categorias: desocupado, espectador, solitário, paralelo, associativo e cooperativo.

1. Comportamento desocupado. A criança aparentemente não está brincando, mas ocupa-se de assistir qualquer coisa que seja de interesse momentâneo. Quando não há nada excitante acontecendo, ela brinca com seu próprio corpo, entra e sai de cadeiras, segue o professor, ou senta-se em um ponto olhando ao redor da sala.

2. Espectador. Um tanto relacionado ao comportamento desocupado está o comportamento onde a criança observa um grupo de crianças brincando, mas ela própria não entra na brincadeira. A criança passa a maior parte do tempo observando as outras crianças brincando. Ela comumente fala com as crianças que está observando, faz perguntas, ou dá sugestões, mas não participa propriamente. Esse tipo difere do desocupado porque o espectador está definitivamente observando grupos particulares de crianças ao invés de qualquer coisa que aconteça que seja excitante. A criança fica de pé ou fica a uma certa distância do grupo para que ela possa ver e ouvir tudo o que acontece.

3. Brincadeira solitária independente. A criança brinca sozinha e independentemente com brinquedos que são geralmente diferentes daqueles usados pelas crianças próximas e não faz nenhum esforço para se aproximar de outras crianças. Ele segue em sua própria atividade sem preocupação com que os outros estão fazendo, ou seja, centraliza seu interesse em sua própria brincadeira.

4. Brincadeira paralela. A criança brinca de forma independente, mas a atividade que ela realiza a coloca entre outras crianças. Ou seja, ela brinca da mesma atividade ou com brinquedos que são como aqueles que as crianças ao seu redor estão usando, mas ela brinca da forma que bem entender, e não tenta influenciar ou modificar a atividade das crianças perto dela. Ela joga "ao lado" e não "com" as outras crianças. Não há nenhuma tentativa de controlar o ir e vir de crianças no grupo.

5. Brincadeira associativa. A criança brinca com as outras crianças. A conversa entre elas diz respeito à atividade comum; há compartilhamento de material de jogo e tentativas leves de controlar quais crianças podem ou não entrar para brincar no grupo. Todos os membros se envolvem em atividades semelhantes, ou mesmo idênticas. Entretanto, não há divisão de trabalho e nenhuma organização da atividade de cada indivíduo em torno de um objetivo em comum. As crianças não subordinam seus interesses individuais ao do grupo; em vez disso, cada criança age como deseja.

6. Brincadeira cooperativa ou organizada. Diferente da associativa, a brincadeira cooperativa é a atividade grupal mais altamente organizada, na qual aparecem os elementos da divisão de trabalho, censura de grupo, centralização do controle nas mãos de um ou poucos membros, subordinação do desejo individual ao do grupo. Além disso, os esforços de uma criança são suplementados pelos de outra para a realização de uma meta em comum. A criança brinca em um grupo que é organizado com o propósito de produzir algum produto material, ou de se esforçar para atingir algum objetivo competitivo, ou de dramatizar situações de vida adulta e grupal, ou de jogar jogos formais. Há um sentimento marcante de pertencer ou de não pertencer ao grupo. O controle da situação do grupo está nas mãos de um ou dois dos membros que dirigem a atividade dos outros. O objetivo, assim como o método de alcançá-lo, exige uma divisão do trabalho, assumindo papéis diferentes pelos vários membros do grupo, e a organização da atividade dá-se de modo que os esforços de uma criança sejam aproveitados para buscar o propósito do grupo.


Esses tipos de comportamento não são exclusivos de uma faixa etária. Ou seja, uma criança pode apresentar qualquer um desses comportamentos, seja qual for sua idade. Além disso, diversos fatores podem influenciar o comportamento da criança em um momento específico (p.ex. período de adaptação da criança ao grupo). Entretanto, via de regra, a frequência de cada tipo de comportamento varia de acordo com a idade dentro de um padrão. Por exemplo, a brincadeira paralela é predominante por volta dos 3 anos de idade, a brincadeira associativa aos 4 e a cooperativa a partir dos 5 ou 6 anos. Isso acontece porque a medida que a criança se torna mais velha ela desenvolve suas habilidades sociais e de comunicação e as oportunidades para interação com seus pares se tornam mais comuns, logo, os tipos de comportamento solitários se tornam mais raros e os tipos de comportamento sociais mais frequentes.

Considerando o fato de que o tipo de comportamento predominante varia com a idade, como numa sequência de desenvolvimento, a obra de Mildred Parten ficou também conhecida como Teoria dos estágios da brincadeira.

A pesquisadora escreveu em sua conclusão: “a participação social depende, em grande parte, da idade das crianças. Como regra geral, as crianças mais novas brincam sozinhas ou em grupos paralelos, enquanto as mais velhas brincam nos grupos mais altamente organizados. No entanto, variações individuais foram observadas” (PARTEN, 1932, p.268).

Outras observações importantes do estudo, publicadas em artigo posterior (1933) foram:

(lembrando que não são regras universais, apenas fatos observados dentro daquele grupo que fez parte do estudo há quase 100 anos atrás!)

1. Sem orientação de adulto, crianças pré-escolares na maioria das vezes brincam em grupos de dois (ou seja, duplas);
2. O tamanho do grupo tende a aumentar com a idade;
3. Dois terços das duplas são compostas por crianças do mesmo gênero;
4. O amigo favorito das crianças é, na maioria das vezes, também do mesmo gênero;
5. Idade e ambiente familiar são fatores que influenciam as amizades das crianças;
6. Inteligência tem pouca influência nas amizades das crianças pré-escolares;
7. Irmãos em idade pré-escolar tendem a preferir o mesmo grupo social do outro irmão;
8. Brincar na caixa de areia e brincadeiras criativas com argila, papel e tinta são comumente atividades do tipo paralela;
9. Brincar de casinha foi o tipo de brincadeira social no qual as crianças mais se engajavam;
10. Crianças mais novas e mais velhas diferem na maneira como brincam com seus brinquedos e consequentemente como avaliam o valor social que o brinquedo tem para elas.







Para saber mais:

PARTEN, M. B. (1932). Social Participation among Preschool Children. Journal of Abnormal and Social Psychology. 27 (3): 243–269.

PARTEN, M. B. (1933). Social Play among Preschool Children. Journal of Abnormal and Social Psychology. 28 (2): 136–147. doi:10.1037/h0073939. ISSN 0096-851X.

PARTEN, Mildred; NEWHALL, S. M. (1943). Social Behavior of Preschool Children. In Barker, Roger G.; Kounin, Jacob S.; Wright, Herbert F. Child Behavior and Development: A Course of Representative Studies. New York: McGraw-Hill. pp. 509–525. OCLC 223918.

OLIVEIRA, Ana Maria F. (1994). O brincar e o desenvolvimento infantil. Perspectiva. Florianópolis, UFSC/CED, NUP, n. 22, p. 129-137.

COMPARTILHE ESSE ARTIGO NAS REDES SOCIAIS

Ad Code