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Devemos parar de chamar os trabalhadores da linha de frente de "heróis"? — questiona psicólogo

“Chamar o outro de herói faz bem mais pra pessoa que fala do que para quem ouve” — dizem profissionais na linha de frente.


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Você já deve ter se referido aos profissionais de saúde como heróis. Se não, pelo menos nas últimas semanas já viu ou ouviu essa referência centenas de vezes pela TV ou em vídeos e imagens compartilhadas pelo Whatsapp.

Em todo o mundo abundam comerciais de TV, reportagens e declarações populares que chamam de "heróis" os profissionais que estão na linha de frente do enfrentamento à Covid-19. Não só profissionais de saúde, mas também aqueles dentro dos chamados “serviços essenciais”, como caminhoneiros e entregadores.

Chamar de herói? Aparentemente isso parece uma atitude bacana, um comportamento pró-social. Mas, haveria algum mal em fazer isso? Segundo o psicólogo William Sanderson, sim. Em um artigo publicado nesta semana no portal Psychology Today, ele diz ter uma boa razão para ir contra a corrente, apesar do alto risco de não ser levado a sério neste momento.

O psicólogo inicia seus argumentos compartilhando um texto de uma caixa de mercado, que continuou a trabalhar durante a pandemia. O título do texto da moça é: “Me chamar de herói, só faz VOCÊ se sentir melhor” (texto original aqui). Afinal, quem se beneficia em chamar de herói outras pessoas que colocam suas vidas em perigo?

Chamar de herói um profissional que está de linha de frente — seja um médico ou um entregador de encomendas —pode ser bom para a pessoa que fala, especialmente agora que precisamos desses profissionais mais do que nunca para nosso próprio benefício. A pessoa que diz isso se sente bem consigo mesma por destacar uma virtude no outro que beneficia mais a ela que fala, e, como se sente bem, continua a repetir.

Claro, a pessoa que ouve pode até se sentir bem, e ficar feliz por ter seu trabalho reconhecido. Mas, o problema na verdade é que isso pode diminuir a probabilidade de fazermos algo realmente significativo e concreto para ajudar ou recompensar esses heróis — como oferecer condições de segurança, suporte emocional, remuneração adequada etc. Afinal, eles são heróis, dedicados e com super-habilidades, e não precisam de nós, não é?

Segundo o psicólogo, a maioria dos trabalhadores que estão na linha de frente trocaria seu "culto ao herói" por um aumento em seus baixos salários ou melhores condições de trabalho. Muitos prefeririam até mesmo poder ficar em casa com a família.

Para mudarmos esse cenário, além de reconhecê-los como trabalhadores “super-necessários”, precisamos colocar em ação planos concretos de apoio a esses trabalhadores.

Segundo William Sanderson, muitos políticos dizem agora "não esqueceremos deles, não se preocupe, esses  heróis serão recompensados ​​depois"; infelizmente, nossa espécie humana tem pouca memória: logo que essa pandemia desapareça, esses trabalhadores de linha de frente com baixos salários provavelmente se tornarão "descartáveis" novamente e continuarão a lutar a favor de um salário digno para viver. E provavelmente nós também esqueceremos esse papo de herói e voltaremos a reclamar dos nossos médicos novamente.

Chegou a hora de trocarmos nosso louvor heroico por apoio concreto, para que os que estão na linha de frente saibam que realmente valorizamos seu serviço e queremos contribuir um pouco mais para ajudá-los, em vez de nos acomodarmos.

"Se, em vez de grandes corporações usarem comerciais de bem-estar celebrando como heróis os trabalhadores da linha de frente, eles direcionassem esse dinheiro publicitário para os trabalhadores, estariam indo na direção mais correta”, diz Sanderson. “Isso seria verdadeiramente virtuoso!”





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