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Crianças que mentem: como lidar com a mentira infantil?

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Crianças que mentem trazem preocupação para pais e educadores.

O que é a mentira?


Você tem um filho mentiroso? Filhos que mentem pode ser uma preocupação para pais e educadores. Por isso, vamos aqui falar sobre a mentira. Mas, afinal, o que é a mentira e por que as crianças mentem? Como lidar com a mentira infantil?

Podemos definir a mentira como qualquer ação intencional que tenha a função de fornecer a outra pessoa informações falsas ou privá-las das verdadeiras.

A mentira é um elemento comum nas interações sociais, presente em todas as culturas, e que, muitas vezes, é necessário para um bom convívio social. Seria impossível vivermos em um mundo com rigoroso senso de verdade.

Atire a pedra quem nunca falou uma mentirinha!


A mentira pode ter a função de preservar a privacidade da pessoa, possibilitar boas convivências, manter relacionamentos sociais saudáveis, demonstrar preocupação, respeito ou empatia. Algumas pessoas mentem para evitar problemas ou constrangimentos. Um pai pode mentir para o filho que a loja de brinquedos está fechada, para que a criança pare de insistir em ir até à loja.

Entretanto, quando a mentira traz como consequência o prejuízo de outras pessoas ela se torna um problema. Esse tipo de mentira é um problema moral e é com frequência condenado socialmente.


Podemos, portanto, diferenciar dois tipos de mentiras:

1.  Mentira pró-social: a mentira mais leve, socialmente aceita, que não implica em prejuízos aos outros. Pelo contrário, pode até trazer benefícios para o grupo social.

2.  Mentira antissocial: A mentira nociva, desonesta, que busca obter vantagens, prejudicando outras pessoas.



Por que as crianças mentem?


O comportamento de mentir já é possível de ser observado em crianças a partir dos dois anos de idade (ou mesmo nas mais novas, embora mais raramente). Mesmo sem a elaboração verbal da mentira, a criança mente com gestos, expressões faciais, escondendo objetos ou apontando pessoas.

O comportamento de mentir é aprendido e mantido quando a criança consegue obter determinado resultado favorável a ela. Ou seja, ela aprende que mentindo ela pode obter benefícios, ganhando algo que ela gosta ou evitando algo que ela não gosta.


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Filhos que mentem: comportamento de mentir pode ser uma preocupação para pais e educadores.


Por exemplo, ao mentir a criança consegue:

1.   Ganhar presentes
2.  Ganhar dinheiro
3.  Ganhar favorecimentos
4.  Ganhar atenção
5.  Ganhar status social
6.  Evitar tarefas
7.  Evitar responsabilidades
8.  Evitar constrangimentos
9.  Evitar culpa
10.   Evitar castigo


Quanto mais esses resultados são alcançados, mais forte se torna o comportamento de mentir, ou seja, o comportamento é reforçado positivo e negativamente. Obviamente, isso vale também para adultos.

Crianças também aprendem a omitir ou falsear informações através de instruções deliberadas dos adultos. A criança é levada a expressar-se de modo diferente do que realmente sabe ou sente. Por exemplo, quando uma mãe diz: “faremos uma festa para seu irmão, mas é surpresa, não conte a ele” ou “se você contar para tia Carmen que você não gostou do presente que ela te deu, ela vai ficar muito triste”. Esse é o tipo de mentira socialmente aceita.

Além disso, crianças pequenas aprendem muito imitando outras crianças ou adultos. Pesquisas mostram que, dentro de uma família, uma criança tende a mentir com maior frequência se os pais e irmãos mais velhos têm o hábito de mentir. Elas também podem aprender na escola, imitando colegas ou outros adultos.

Aos quatro anos de idade, a criança já é capaz de distinguir entre os dois tipos de mentira: a mentira mais leve, socialmente aceita, e a mentira nociva, que causa prejuízos para outras pessoas.



Você sabia?

A mentira leve é um elemento aceitável e necessário em muitas interações sociais. Entretanto, devido a sua condição, crianças ou mesmo adultos autistas podem ter dificuldade em mentir e em entender as regras sociais sob as quais uma mentira pode ser aceita. Assim, eles podem falhar nas interações sociais por serem "muito sinceros" ou por revelarem segredos (uma festa surpresa, por exemplo). Por essa razão, o psicólogo americano Ryan Bergstron e seus colaboradores desenvolveram um estudo cujo objetivo era ensinar crianças com autismo a dizerem mentiras socialmente apropriadas em dois tipos de situações: a) quando ganhavam um presente de que não gostavam e b) quando a aparência de uma pessoa era mudada para uma forma pouco atrativa. Quer saber mais, veja aqui.




Como lidar com filhos que mentem?


Uma das dúvidas mais frequentes de pais e educadores é: como lidar com filhos que mentem? Ou como lidar com a mentira infantil?

Mentir requer da criança um trabalho cognitivo complexo que envolve manipulação de informação, controle inibitório, percepção social e linguagem (mesmo que não verbal). Portanto, não há motivos para grandes preocupações quando crianças pequenas começam a contar pequenas mentiras. Tal comportamento pode até ser sinal de um bom desenvolvimento cognitivo e de aprendizagem das regras dos jogos sociais - crianças que mentem mostram que se apropriaram melhor dessas regras.

Entretanto, quando o comportamento de mentir se torna frequente, exagerado e traz prejuízos para outras pessoas (como quando a mentira também envolve roubo, do brinquedo de um colega, por exemplo), os pais e educadores devem se preocupar.


Veja algumas dicas de como lidar com crianças que mentem em diferentes situações:


1. Evite confrontos que provocam a mentira


Muitos adultos, mesmo tendo consciência da realidade dos fatos, questionam a criança quando se deparam com algo de errado: "foi você que sujou o chão?". A pergunta acusatória cria condições propícias para que a mentira seja gerada: "não", responde o filho. Agora, o adulto deve lidar com dois problemas: o chão sujo e a mentira.

Se você pegar seu filho numa transgressão, apenas lide com a transgressão. Não dê a ele a chance de mentir fazendo uma pergunta que você já sabe a resposta.

Crianças muito pequenas (até 3 ou 4 anos), embora já saibam mentir, nem sempre tem consciência do valor moral de seu ato. Ao acusar a criança, ela pode se sentir inclinada a mentir para evitar ser castigada, principalmente quando o adulto demonstra raiva no questionamento. O melhor é evitar o confronto. A criança ao se sentir ameaçada, tende a mentir para evitar a provável punição.

Se uma criança quebra um brinquedo de um colega e diz que foi um amigo imaginário o responsável, os pais devem se preocupar menos com a mentira e mais com que a criança tome consciência das consequências de seu ato: “O Miguel vai ficar muito triste porque o brinquedo dele está quebrado”, ou “como você se sentiria se seu brinquedo estivesse quebrado?”.

Se a criança deixou cair tinta no chão, ao invés de perguntar “você sujou o chão?”, diga: “Olha, o chão ficou todo sujo. Isso não é legal. Você me ajuda a limpar?”.


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Filhos que mentem para os pais: como lidar com a mentira das crianças?



2. Saiba distinguir mentira da fantasia


Entre os 3 e 5 anos, as crianças têm cada vez mais contato com o mundo de ficção de nossa cultura. Ela é inserida no mundo de fantasia de personagens como Papai Noel e criaturas encantadas. Para lidar com a mentira infantil, é importante o adulto saber distinguir na criança o que é mentira do que é uma mistura confusa de realidade e fantasia. Às vezes, o que o adulto considera uma mentira é apenas um processo imaginativo da criança.

Com o passar do tempo, o aprendizado das crianças sobre o mundo natural permite que elas próprias coloquem em dúvida muitas de suas crenças fantasiosas. A partir dos 6 anos, é raro que uma criança justifique ou explique um evento a partir de causas imaginárias.



3. Procure as razões por trás das mentiras


Considere uma criança que tem dificuldade em matemática. Ela pode estar mais inclinada a mentir não ter tarefa de casa para se esquivar do constrangimento de demonstrar sua dificuldade. Ou uma criança que sofre violência na escola, que pode estar mais inclinada a mentir que está com dor de cabeça para escapar de ter que ir à aula.

Para lidar com a mentira infantil, é importante que o adulto busque entender o motivo pelo qual a criança ou adolescente é levado a mentir. Assim, ele pode intervir, não corrigindo a mentira, mas sim mostrando ao filho que existem outros caminhos possíveis para a resolução do problema, e que ele está disposto a ajudar a encontrar uma solução mais saudável.


4. Evite punir a criança


Uma das principais motivações para a criança mentir é justamente evitar a punição. A criança que tem medo de ser punida não vai se sentir encorajada a contar a verdade se a verdade resultar em um castigo.

Evitando a punição, você abre caminhos para que as crianças possam ser honestas com você. Ajude a criança a entender o que há de errado com a mentira: "isso é uma mentira e eu não gosto de mentiras". Explique como mentir quebra a confiança e que todos nós precisamos confiar uns nos outros.

Quando seu filho for até você com a verdade e você não demonstrar raiva, ele vai aprender a ir mais vezes. É importante saber separar a mentira do comportamento que levou à mentira. Expresse seu descontentamento com o delito, mas valorize a honestidade de seu filho: “você deveria ter mais cuidado com suas coisas, mas fico feliz por você ter contado a verdade” ou “estou muito feliz por você ter contado a verdade, mas você pegou algo que não era seu, e agora nós temos que devolver”.


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Filhos que mentem para os pais: como lidar com a mentira infantil.



5. Cuidado com rótulos


Evite que seu filho seja rotulado como "mentiroso". O rótulo não é bom para a sua autoestima e pode levá-lo a mentir ainda mais. Ou seja, se seu filho acredita que ele é um mentiroso, ele pode se sentir mais confortável em mentir sempre que lhe for conveniente.


6. Conte um conto


Para lidar com a mentira infantil, uma boa maneira de ensinar valores morais e as consequências da mentira às crianças é através de histórias, como a fábula “O Menino que mentia”, cuja autoria é atribuída à Esopo. É uma oportunidade de a criança aprender sobre a mentira de forma lúdica.

Os personagens e seus comportamentos são modelos para a criança aprender como a mentira pode trazer prejuízos para outras pessoas ou para o próprio mentiroso. Há na literatura mundial muitos livros que podem ajudar os pais a conversar com os filhos sobre a mentira e ensinar valore morais (veja algumas sugestões ao final do texto!).


7. Esteja aberto a negociar com eles


Uma das razões dos filhos mentir é evitar o incômodo da negociação, especialmente se é sobre algo importante para eles. Se seu filho acredita que você nunca está disposto a abrir mão de sua opinião, ele estará também menos disposto a tentar conversar com você.

Quando a mãe insiste em não deixar a filha ir ao shopping com as amigas, a filha pode mentir ir à casa de uma tia quando na verdade está indo ao shopping com as amigas, escondida dos pais. Procure ouvir o argumento e as propostas de seu filho e tente encontrar soluções para que eles também possam sair ganhando. Assim, seu filho se sentirá mais confortável junto a você, mentirá menos e criará senso de responsabilidade na tomada de decisões.


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8. Consciência e responsabilidade


Quanto mais crescem, mais autonomia deve ser dada aos filhos. O papel dos pais e educadores deve ser cultivar um espírito consciente no jovem, para que ele, com sua independência, possa agir de forma responsável.

A criança mais velha ou adolescente deve ter consciência das consequências de seus atos. Uma mentira ocasional sobre tarefas da escola ou mesmo escovação de dentes não é incomum nesta idade. Mas a melhor resposta dos pais é simplesmente expressar seu descontentamento e lembrar a consequência dos comportamentos. A tarefa da escola inacabada pode ter como consequência uma nota ruim ou até mesmo uma reprovação. O dente não escovado pode ter como consequência uma cárie. É de responsabilidade do jovem as consequências das escolhas que eles fazem, e mentir para os pais sobre o comportamento não vai evitar essas consequências.

  
 Como foi o dia na escola?

  

Para saber mais:

HÜBNER, ROCHA e ZOTTO. Mentira. In: GOMIDE, Paula (Org). Comportamento moral: uma proposta para o desenvolvimento das virtudes. Curitiba: Juruá, 2012.

SMITH, David. Por que mentimos: os fundamentos biológicos e psicológicos da mentira. Rio de Janeiro: Campus, 2006.

TALWAR e LEE. Social and Cognitive Correlates of Children’s Lying Behavior. Child Development, 2008.

OUTEIRAL, Jose. Breve ensaio sobre a mentira. Rio de Janeiro: Revinter, 2004.


Livros infantis:

BANDEIRA, Pedro. Alice no país da mentira. São Paulo: Editora Moderna, 2016.

BANDEIRA, Pedro. A mentira cabeluda. São Paulo: Editora Moderna, 2012.

COCCA-LEFFLER, Maryann. A princesa Bia e a mentira que cresceu. Blumenau: Todolivro, 2016.

VASCONCELLOS, Cecilia. Nas pernas da mentira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.

KRALJIC, Helena. Como a mentira cresce. São Paulo: Bicho Esperto - Rideel, 2013.

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